O espetáculo ONDE A ONÇA BEBE ÁGUA reúne dois contos, ambos baseados na obra do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro e em sua teoria do “perspectivismo” (teoria esta que trouxe uma enorme contribuição à antropologia) e têm o intuito de debater o conceito de humanidade da perspectiva indígena e apresentar ao público leigo alguns de seus costumes.
O primeiro conto é uma adaptação da história “A Roupa da Onça” de Niel Braga (ator do espetáculo) e aborda, do ponto de vista da mitologia indígena, as semelhanças dos homens e animais e como eles se diferenciaram. Também é trazido a função social e simbólica da pintura corporal e a proximidade espiritual entre homens e animais.
O segundo conto é uma adaptação do livro de Verônica Stigger, a partir da obra de Eduardo Viveiros de Castro, e conta a história da Índia Corajaci, que ao escutar uma voz que a alertava de não beber daquela água, pois era o lugar onde a onça também bebia, descobre mistérios da floresta e dos sonhos. Trata-se da relação dos sonhos na compreensão de mundo indígena e os transmorfismos que permeiam sua noção de corporiedade.
Duração: 60 minutos
Faixa etária indicada: 4 a 10 anos
Histórico: estreou no SESC Ipiranga com 5 apresentações: 29 e 30 de agosto, 06 e 07 de setembro e 12 de outubro de 2015. Integrando a programação paralela a exposição “Variações do Corpo Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo”.
O espetáculo “Catando Piolhos Contando Histórias” é uma adaptação do livro indígena “Catando Piolhos Contando Histórias”, de Daniel Munduruku (paraense de nascimento e munduruku de tradição) que narra como é a vida de uma criança indígena, seu cotidiano e como se constituem suas relações afetivas e seu aprendizado. O livro aborda a fronteira entre o aprendizado e o afeto na tradição oral indígena: os adultos, através da ação de catar piolhos nas crianças, transmitiam ensinos profundos através de histórias contadas nesses momentos. Optamos por trazer neste espetáculo elementos da contação de histórias e músicas indígenas.
O enredo se trata da narração de um índio que mostra o carinho de todos da sua tribo, que deixavam as crianças serem crianças por inteiro e brincarem para aprender e transmitiam diversos ensinamentos contando histórias em momentos em que a ‘desculpa’ era catar piolhos, como: a mãe que ensina ao filho que será necessário seguir sua própria trilha na floresta; o Pajé que diz que a onça, mãe da natureza ensina o que é preciso saber e que o espírito não pode querer o que o corpo não quer. E outros ensinamentos que recebe do pai e das avós.
Obs.: O espetáculo original chamava-se “O que fala esse corpo?” e era a adaptação do livro “Catando Piolho Contando Histórias” e “O menino e o jacaré”, de Maté (artista plástica e pesquisadora da tradição indígena). Optamos em retirar essa segunda história e alteramos o nome para o mesmo nome do livro.
Histórico: estreou no SESC Ipiranga com 3 apresentações: 13, 20 e 27 de setembro de 2015. Integrando a programação paralela a exposição “Variações do Corpo Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo.”
Duração: 60 minutos
Faixa etária indicada: 6 a 10 anos
Estes espetáculos fazem parte do projeto CANTO DA ONÇA (da Cia Florescer) em que dois artistas brasileiros se propõem a discutir como a tradição ancestral indígena se ressignifica no imaginário urbano contemporâneo, contrapondo duas culturas, “dois Brasis”, um olhar miscigenado e repleto de linhas, que atravessam as duas simbologias.
O projeto “O CANTO DA ONÇA” une o teatro e a contação de histórias visando trazer para a sociedade urbana brasileira o debate e a reflexão sobre as culturas indígenas e a condição histórica atual dos povos indígenas.
O Brasil, assim como todo o continente americano, tem como povos originais os povos indígenas ou ameríndios. As tradições mais antigas, assim como os fatos históricos mais distantes estão relacionados diretamente a esses povos, no entanto, pouco dessa herança se mantém em nosso cotidiano cultural. Da mesma forma existe pouco espaço na sociedade brasileira para os descendentes destes povos se integrarem ao funcionamento das cidades ou mesmo nos sistemas rurais. O brasileiro não reconhece sua ancestralidade indígena e não conhece as culturas nativas da terra onde se formou sua nação e sua identidade de brasileiro. Apesar da figura do indígena ser forte no imaginário simbólico do país, pouco se sabe de suas culturas e de sua maneira de enxergar o mundo. Para agravar a situação, existe um forte preconceito, baseados em estereótipos pejorativos do que elas possam ser. Em outros países vizinhos ao Brasil como a Bolívia, Peru, Chile, Guatemala e outros a presença indígena na constituição cultural é muito mais consistente e ativa, também o papel das comunidades indígenas na vida social e na participação política destes países é muito maior.
São estas as questões que motivam o projeto a lançar luz sobre a cultura e o pensamento dos povos originais do Brasil, mais precisamente em divulgar na sociedade moderna brasileira não indígena sua origem e ancestralidade indígena. A ideia principal é aproximar do cidadão comum a forma de pensar e enxergar o mundo dos indígenas para que esta aproximação crie possibilidades de convívio e integração, que por sua vez criará uma integração destas comunidades nativas a sociedade como um todo.
O projeto busca chegar a este objetivo por três caminhos:
O primeiro mais interpretativo, onde utiliza de teorias antropológicas, ou seja, se vale de uma interpretação ocidental do funcionamento do pensamento indígena. Essa é uma maneira de tentar explicar ao público leigo como pensam os indígenas. No entanto para evitar um excesso de apropriação ou de unilateralidade interpretativas, o projeto utiliza a leitura de Eduardo Viveiro de Castro de “PERSPECTIVISMO” (ou multinaturalismo), que põe em cheque a própria antropologia, sugerindo a inversão do olhar antropológico com a questão: “como o indígena nos enxerga?”
A segunda forma de abordagem é mais direta e consiste em trazer a cosmogonia, o universo mítico e místico destes povos e com eles sua simbologia e interpretação de mundo. Narrar histórias destes povos.
A terceira consolida-se em trazer experiências vividas por indivíduos destas comunidades. Trazer histórias de vivencias que indígenas tiveram ao longo de sua vida. Dessa maneira esperamos não somente trazer a forma como o indígena interpreta a realidade, mas trazer o contexto político atual, que circunda a vida de um Índio e das comunidades indígenas, que tipo de problemas vivem, como vivenciam o preconceito e como conseguem se integrar a sociedade brasileira.
O teatro associado à contação de história se mostra a melhor maneira de atingir o fim de aproximar o brasileiro urbano do brasileiro indígena, uma vez que por seu caráter lúdico o teatro é capaz de lançar o espectador em um universo imaginário onde ele pode se aproximar ou até se enxergar como o personagem, enquanto a contação de história vem a valorizar a forma tradicional e ancestral de transmissão de conhecimento, a tradição oral, muito presente nos povos indígenas.